quinta-feira, 26 de maio de 2016

Lya Luft: As Parceiras


As parceiras é o primeiro romance da carreira de Lya Luft.  Publicado originalmente em 1980, pela editora Nova Fronteira, hoje está na sua 29º edição com 127 páginas dedicadas à também escritora Rachel Jardim.
 Em As Parceiras, é nos dada uma visão feminina sobre um família de mulheres marcadas pela loucura e por tragédias. Anelise Von Sansens, com aproximadamente 40 anos, tem sua vida a beira do caos depois de consecutivos abortos e a separação do marido. Para resolver suas questões interiores, Anelise retrocede ao antigo chalé de praia da família a fim de buscar no passado as razões para seu infortúnio e sina das mulheres que a cercam.
A narrativa é feita em primeira pessoa , onde Anelise além de personagem principal é também o narrador, os fatos são descritos em tempo real e distribuídos em sete capítulos, correspondentes aos sete dias da semana. Ainda que os capítulos sigam uma cronologia, o enredo do livro não se dá de forma linear, desenvolve-se com cortes e muitas retrospectivas, fazendo uma mescla entre as memórias do narrador e o tempo real. O vocabulário empregado é relativamente simples, mas exige atenção do leitor devido ao uso de figuras de linguagem, especialmente metáforas e ironias.
As recordações de Anelise começam com a avó Catarina, que aos 14 anos foi obrigada a se casar com um homem rude que a violentava, buscava fugir de sua realidade isolando-se no sótão da casa e acabou enlouquecendo. Mesmo assim, o casamento resultou em quatro filhas: Beatriz, Tia Beata, que ficou viúva semanas depois de casar-se, seu marido se suicidara com um tiro na boca, predestinada a morrer virgem, buscou refúgio na religião. Dora, artista plástica que relata de forma oculta em seus quadros sua infelicidade nos inúmeros casamentos. Dora adotou um filho, Otávio, e o mandou para estudar no exterior tentando livra-lo da sina da família. Norma, mãe de Anelise e sua irmã Vânia, é descrita como uma figura distante, deixando explícito que nem a própria Anelise sabia quem a mãe realmente era. E por último, Sibila, ou Bila, como é mencionada no livro, que foi resultado de um abuso quando Catarina estava submersa em seu mundo de loucura, nasceu louca e anã, e é caracterizada como uma figura grotesca na infância de Anelise. As memórias de Anelise também se concentram na amiguinha Adélia, a quem ela diz ser seu primeiro amor. Um amor fraterno, era Adélia quem a ajudava a fugir do mundo de loucuras e bizarrice da família, mas o destino mais uma vez passa a perna nos Von Sansens tirando Adélia do caminho de Anelise de forma trágica: Adélia despencou de um penhasco. Na trama, também há uma veranista de suma importância ao desfecho final do livro.
            A melancolia se estabelece por todos os sete capítulos de As parceiras. Quando os pais de Anelise morrem, quem fica com sua custódia e da irmã é tia Beata que, devido à lástima de sua vida, tornou-se uma pessoa fria e sem afeto, fazendo de Anelise uma criança carente. Vânia casasse cedo e torna-se uma mulher aparentemente forte, mas que esconde um segredo: casou-se sobre a condição de nunca ter filhos, pois seu marido tinha medo de sua família esquisita. A protagonista só tem proximidade com o afeto quando conhece Otávio e, anos depois, Tiago, com quem fora casada. Depois de consecutivos abortos e a morte do único feto que nascera, Anelise volta ao antigo chalé, de onde todos os dias observa uma veranista que se coloca sentada no mesmo penhasco onde Adélia despencara.
            Durante todo desenrolar do livro, é nítido o medo que Anelise tem medo de ficar louca como a avó ou ter a uma vida mísera como as tias e a mãe. Mas, ao final da semana que passa no chalé, ela percebe que tem muito mais em comum com sua família do que pensa, e percebe que a desgraça é justamente o que as une. Catarina se refugia no sótão, Anelise fazia–se de seu próprio sótão.  A autora deixa questões em aberto no final do livro, como a identidade da veranista e qual foi o verdadeiro destino de Anelise.
            O desfecho final é o encontro de Anelise com a veranista, onde a protagonista reconhece quem ela, do chalé, observava todos os dias. As duas descem o penhasco de mãos dadas. Mas enfim, quem era a veranista? Qual foi o destino de Anelise? Ela resolveu suas questões? Acabou se rendendo a loucura da família? Isso cabe de cada leitor.

            O romance As Parceiras é um dos livros mais tocantes que já li. A trama é intrigante e bem desenvolvida, assim como as passagens de tempo, tanto dos flashbacks quanto do tempo real. Entretanto, o desfecho final, por mais que fosse a intenção da autora deixa-lo em aberto, poderia ser um pouco mais detalhado dando ao leitor premissas para descartar algumas possibilidades de fim. Recomendo essa leitura para aqueles que gostam de livros com personagens reais e dramas que facilmente podemos encontrar fora as páginas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário